Ocupação Mirabal – Como é o dia a dia de mulheres em situação de vulnerabilidade social e violência doméstica

A ocupação com cerca de 20 pessoas é marcada por luta, resistência e feminismo

Reportagem: Evelyn Lucena, Gionara Machado e Tyane Leal

Edição: Michelle Raphaelli

Escadaria da Ocupação / Foto: Tyane Leal

Um passo de cada vez. É assim que mulheres da Ocupação Mirabal, no bairro Sertório, na zona norte de Porto Alegre, vivem seus dias após sofrerem algum tipo de violência doméstica. O abrigo com cerca de 20 pessoas, entre mulheres e crianças, funciona não só para acolher e abrigar, serve também como espaço de fortalecimento para todas elas.

Na casa, cartazes com frases feministas e depoimentos de quem ali vive ou passou um tempo chamam a atenção. Os textos motivadores incentivam as mulheres para não se calarem diante de qualquer tipo de violência. O ambiente possui dois andares, espaço suficiente para as abrigadas e voluntárias. No primeiro andar, a sala de recepção é destacada pela escada em espiral, colorida e revestida com colchões e panos – segurança improvisada para as crianças não se machucarem em caso de quedas. No segundo piso, o abrigo tem cinco quartos, um banheiro e uma sala de descanso, com uma televisão e dois sofás.

A mudança para o novo local foi resultado da desocupação do antigo prédio na rua Duque de Caxias, no Centro da capital, tendo como referência as irmãs Mirabal – comunistas assassinadas que lutaram contra a Ditadura. Mirabal é o nome escolhido como símbolo mundial da luta da mulher. Todas as quatro ocupações – regional e nacional – levam o nome de alguma mulher que fez história reivindicando seus direitos. O movimento luta contra o machismo e opressão. Com apoio de voluntárias, psicólogas e nutricionistas, as apoiadoras da casa vendem quitutes e divulgam oficinas e aulas, e isso serve como fonte de renda.

Além destas atividades, as mulheres também estão reformando os cômodos. No dia em que a reportagem foi ao local, a cozinha estava em obras. Conversamos com a coordenadora da casa, Natanielle Almada. Ela nos contou que o movimento tem uma página no Facebook e que pessoas interessadas em ajudar podem contribuir para auxiliar a reforma.

Voluntárias trabalhando na reforma da cozinha / Foto: Tyane Leal

Muito além de um teto

Criança na escada da casa / Foto: Tyane Leal

O espaço é acolhedor e fortalecedor, segundo Patrícia (nome fictício para preservar a identidade), que vive na casa há cinco meses com seu filho de seis anos. Ela sofreu agressão psicológica por parte do seu ex-marido.

Após essa fase turbulenta, Patrícia pretende alugar uma casa e recomeçar sua vida.
“Meu ex-marido era usuário de drogas, isso gerava brigas por ciúmes. Discutimos em umas dessas crises e fui expulsa de casa. Saí com meu filho procurando ajuda” – contou ela. De acordo com a delegada Tatiana Bastos, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), em entrevista ao site HuffPost Brasil, apenas 10% dos crimes de violência doméstica são denunciados no Brasil: nestes casos, 87% do agressores são o marido ou companheiro.

Segundo a coordenadora da casa Natanielle, o tempo de cada abrigada é transitório – há quem fique meses, semanas ou dias. Muitas mulheres fogem de seus companheiros apenas com a roupa do corpo e seus filhos. No local encontram muito mais que uma cama para dormir. Segundo elas, ali se reerguem, aprendem e ganham amor.
Para a psicóloga Micheline Borges a Violência contra mulher, acontece normalmente de forma velada dentro de casa, muitas vezes, parentes próximos desconhecem o que acontece.

“A violência doméstica funciona de forma circular. Primeira fase do ciclo é o aumento da tensão. Período de injúrias e ameaças tecidas pelo agressor, criando uma sensação de perigo eminente dentro do cotidiano da mulher. A segunda fase, o agressor maltrata física e ou psicologicamente a vítima, estes maus-tratos tendem a escalar na sua frequência e intensidade. E a terceira fase, após os episódios de violência a tendência é o agressor envolver a vítima com demonstrações de carinho e atenção, desculpando-se pelas agressões e prometendo mudar – afirmando que nunca mais voltará a exercer violência” – explica Micheline.

De acordo com a psicóloga, esse é um ciclo complexo, que envolve dependência emocional, financeira, de medo e ameaças a família da vítima. Inúmeras vezes essa mulher está vivendo uma repetição de comportamentos da sua infância. “É dever do estado e responsabilidade da sociedade como um todo a proteção as vítimas de toda e qualquer tipo de violência. Garantindo meios de denúncia, formas de amparo e abrigo, direito a recomeço e inserção produtiva e profissionalizante”, concluiu Micheline.


A reabilitação encontrada no novo lar, Ocupação Mirabal, é feita em conjunto com psicólogos voluntários e profissionais de diversas áreas que se mobilizam para auxiliar. As mulheres têm o livre arbítrio para se reestabelecer na sociedade ou ficar na casa, podendo sair para trabalhar, estudar e voltar.

Como buscar ajuda
Para denunciar casos de agressão disque 0800-541-0803 ou 180, que é válido para todos os estados.
Também é possível ir até um núcleo de delegacia para mulheres. Em Porto Alegre, há o Centro de atendimento à mulher na rua Travessa Tuyuty, 10 – Loja 4, esquina com rua André da Rocha, no Centro.
Veja o endereço de outros locais de atendimento no Rio Grande do Sul neste link.

Projeto “Criança Feliz Família Tom” leva esperança para crianças carentes de Alvorada

Voluntários do projeto | Foto: Cainan Xavier

Há sete anos, Júlio César da Silva, de 45 anos, vem cumprindo a promessa que fez quando tinha 11 anos de idade – fazer o bem!

Reportagem: Evelyn Lucena
Fotos: Cainan Xavier (voluntário do projeto)
Edição: Michele Raphaelli, Juliana Barbieri

O Projeto “Criança Feliz Família Tom” nasceu com a vontade de Júlio César da Silva, de 45 anos, em fazer o bem ao próximo. As arrecadações ajudam crianças carentes da cidade de Alvorada, nos bairros Vila Aparecida e Umbú. Os voluntários realizam diversos eventos, ao longo do ano, com objetivo de levar carinho e atenção às crianças.
“Os órgãos públicos esqueceram Alvorada, tem muitas vilas, muita comunidade pobre lá, na Vila Umbú, na Santa Bárbara, Aparecida, Stella, é muita pobreza” – conta Júlio.

Um dos maiores eventos organizados pelo projeto é a festa para o dia das crianças que já vem acontecendo há 7 anos. A ideia de realizar a festa surgiu por conta da infância difícil que o Júlio teve . “Fui ter brinquedo quando eu tinha 15 anos” – desabafou.

Uma das lembranças mais marcantes foi quando a mãe o levou em uma festa para crianças carentes que ocorreu na Redenção, onde estavam dando pipoca, algodão doce, etc. “Aquilo ficou gravado em mim, acho que eu tinha 11 anos naquela época. Se um dia eu tivesse a oportunidade de fazer uma festa para crianças carentes eu ia fazer”, ele diz.
Com a esposa Ivone, e seus dois filhos, Júlio conta com amigos, familiares e conhecidos que já atuam no “Projeto Criança Feliz Família Tom”.
“Sempre fiz questão dos meus filhos participarem, pra eles verem como é dura, nua e crua a realidade, para eles terem noção como é bom dar valor às coisas que tem dentro de casa, não reclamar, não falar que a vida é isso e aquilo, quando tem criança que não tem nem um pão pra comer. ”

O nome do projeto “Criança Feliz Família Tom”, veio de uma homenagem. Tom era o apelido do menino Welyntton Oliveira – que era voluntário no projeto e que faleceu em 2017, com 22 anos por causa de um infarto. Tom conheceu a família do Júlio quando tinha apenas 2 anos de idade.

“A gente sentiu que fazendo isso, colocando o nome dele no projeto – o Tom estava vivo dentro de nós. Então, nos empenhamos muito mais em fazer o projeto” – conta Ivone.

A festa do dia das crianças do último ano, beneficiou 337 crianças, além das pessoas da comunidade. Foram servidos novecentos cachorros quentes, refrigerantes, 140 quilos de galeto e algodão doce. Brinquedos alegraram o dia das crianças.
“Estende a mão pra ela (criança), tenta ajudar, não tenta julgar. Porque a criança é a que menos tem culpa” – Julio explicando o conceito do projeto.

Os voluntários também cortaram o cabelo e pintaram as unhas dos pequenos. Júlio ressalta que tudo isso é feito sem envolvimento de igrejas ou políticos. “A comunidade comprou a ideia, o ser humano é muito solidário, ainda mais quando a gente fala a palavra criança, todos nós fomos crianças um dia. E dessas 387 crianças, se uma sair com o pensamento que eu tive quando eu tinha 11 anos, já foi feita a tarefa“ – enfatiza Júlio.

No começo de abril, os voluntários do “Projeto Criança Feliz Família Tom” arrecadaram chocolates, balas, achocolatados e pirulitos, para fazer kits de Páscoa que foram entregues na comunidade. Para o ano que vem, o projeto quer juntar kit´s escolares e organizar festas de 15 anos coletivas.

Saiba como ajudar o projeto

Qualquer pessoa pode participar do projeto entrando em contato pela página do Facebook. Os voluntários estarão recebendo doações. Caixa de leite (vazia), arroz, cebola, alho, ervilha, milho e frango podem ser doados e vão auxiliar os voluntárias na entrega de marmitas para pessoas de rua em Porto Alegre. A ação será feita na rua Voluntários da Pátria e na avenida Farrapos.

Ivone Ourique, vestida de coelhinho da Páscoa. | Foto: Cainan Xavier

Projeto Bem Me Fez vira notícia no site Coletiva.net

Na semana do lançamento do projeto Bem Me Fez a equipe do blog virou notícia no Coletiva.net. Com Iniciativa de fazer um conteúdo mais leve em meio a enxurrada de notícias negativas, nasceu o projeto  “Bem Me Fez”,  com base no conceito “o bem que me fez fazer o bem”.  Os onze alunos da faculdade São Francisco de Assis, coordenados pela professora Michelle Raphaelli, tem função de a cada aula criar uma nova produção de conteúdo através de uma escala onde todos passam por todas as funções.

Conheça nossa equipe: https://t.co/v1jLoXQ3u6

Junte tampinhas e doe solidariedade!

Conheça o projeto que transforma plástico que iria para o lixo em outros produtos que podem ser vendidos e ajudam entidades carentes

Reportagem: Rafael Ricalde, Gustavo Becker, Gustavo Pilar
Edição:  Juliana Barbieri

Quem nunca se deparou com pontos de recolhimento de tampinhas espalhados por aí? Se a resposta for sim, você também já deve ter se perguntado para quê servem, e qual o destino do material que parece lixo. Pensando nisto, nós do curso de jornalismo da Faculdade São Francisco de Assis, vamos contar histórias como está em nosso projeto independente ‘’Bem Me fez”. Fomos em busca de respostas para as seguintes perguntas: Por que juntarmos as tampinhas? Para onde levá-las? O que é feito com elas? Encontramos uma voluntária que faz a coleta das tampinhas por iniciativa própria e um projeto que recolhe e distribui o material. Através do relato desta voluntária e também do depoimento da coordenadora do projeto, vamos descobrir como “a coisa” toda acontece.

Na imagem temos a aluna Ana Julia da Faculdade São Francisco De Assis, despejando sua tampinha em um recipiente, ela não sabia do projeto e se interessou pela iniciativa.
Foto – Gustavo Becker

Segundo Simara Souza, coordenadora executiva do projeto ‘’Tampinha legal’’ –  o trabalho começou em 2016, na cidade de Porto Alegre, com o intuito de conscientizar a população sobre a importância da reciclagem e ajudar instituições assistenciais com os materiais arrecadados.  O volume arrecadado é vendido e o dinheiro revertido em doação para instituições. A ideia já levou o projeto ao volume de 100 milhões de tampinhas arrecadadas, para alcançar esta quantidade não é fácil, exige muito trabalho e voluntariado.


“Ao coletar tampinhas, canudinhos e copinhos, as pessoas se tornam protagonistas da mudança que desejam para a sua realidade, para a sua cidade, para o país e para o mundo. Estas pessoas estão dando o exemplo de cidadania e civilidade. O ‘Tampinha Legal’, aborda várias demandas atuais como o fomento do Bem e da solidariedade, além de tratarmos de inclusão e acessibilidade. Acima de tudo, apresentamos várias soluções para o mundo moderno com o material plástico” – conta Simara.

A coordenadora do “Tampinha Legal” explicou como funciona o processo de arrecadação e distribuição do material. Os pontos de coletas podem ser encontrados em escolas, condomínios, residências, empresas, comércios, órgãos públicos, igrejas e entre outros. As entidades registram seus pontos de coleta por um cadastro no sistema de gerenciamento de dados do projeto, feito através de seu login e senha. Cada entidade tem seus coletores espalhados em networkings onde é feita a arrecadação das tampinhas. Após efetuar seu registro os endereços de coleta serão disponibilizados no site que pode ser acessado através do link.

Apenas entidades regularizadas e que possam comprovar o destino dos recursos obtidos com a venda do material estão autorizadas a participar, tais como APAE’S, Ligas Femininas, Educandários, Escolas, Hospitais, ONG’s de defesa dos animais, entre outras. O material recolhido é separado por cores, ensacado e entregue mediante agendamento prévio. Essas entidades recebem cem por cento dos recursos obtidos pela venda do material, não são oneradas com taxas de inscrição, manutenção ou mensalidades, não há trocas por mercadorias ou produtos, todo recurso arrecadado poderá ser utilizado em melhorias nas suas sedes, aquisição de equipamentos, medicamentos, ou custear despesas médicas como consultas, exames e tratamentos. Todas entidades devem comprovar o destino da aplicação feita com os recursos financeiros obtidos com a venda do material. Todo esse fluxo pode ser acompanhado através do site Tampinha Legal.

“Todos podem coletar tampinhas. Reutilizamos embalagens para as coletas. As mais utilizadas são as ‘bombonas’ de água de cinco e 20 litros. Entretanto, outras embalagens também podem ser utilizadas. Preferencialmente embalagens de plástico que se por ventura molharem, umedecerem ou sujarem são de fácil limpeza” – explica Simara Souza.

Imagem interna de uma garrafa utilizada para coleta das tampinhas
Foto – Gustavo Becker

Depois de coletado, separado e vendido o material retorna para indústria no modelo de “Economia Circular” onde copos, canudos, e tampas de plástico através de programas como “Copinho Legal”, “Canudinho Legal”, e “Tampinha Legal”, retornam transformados em outros produtos como escovas e vassouras, baldes e bacias, prendedores de roupas e pazinhas.  Funciona assim, aquilo que é moído, derretido e granulado acaba vendido novamente para fabricação de outras peças. Tampas azuis se tornarão outro objeto da mesma cor, as tampas vermelhas também, e assim sucessivamente.

O processo tem caráter educativo, pois não há cobrança de taxas para as entidades assistenciais participarem. Estas recebem cem por cento dos recursos diretamente da conta do reciclador para as suas contas bancárias. Não há repasse de valores nem rateio de tampinhas.

“Onde há pessoas, há resíduos. A poluição é produto da atividade humana. O ser humano precisa mudar seu comportamento. O “Tampinha Legal” propõe ações modificadoras de comportamento de massa. Fala-se em deixar um mundo melhor para as novas gerações, então precisamos deixar agora o local onde estamos melhor que encontramos. Igrejas, parques, praias, estádios, banheiros, supermercados, ônibus, metro, aviões, salas de aula… todos estes lugares devem ser deixados melhores do que os encontramos. Desta forma, estaremos deixando um mundo melhor” – disse Simara Souza.

O Instituto do Câncer Infantil é uma das instituições que faz uso das tampinhas como fonte de arrecadação e financiamento de projetos. Conversamos com a voluntária do Instituto, Maria da Graça Huff Carvalho de 68 anos, professora aposentada e há 12 anos é voluntaria. Ela contou que em 2017 surgiu a ideia do arrecadamento das tampinhas – Todo material recebido, é vendido para uma empresa que fábrica cabides e que tem parceria com Rotary Club de Gravataí. Em média, uma tonelada e meia por mês do material – conta. Quando questionada sobre a importância da coleta dos materiais Maria da Graça responde que a ação pode ajudar a gerar empregos e a instituição, além de contribuir para a preservação do meio ambiente, já que são milhares de tampinhas que sendo retiradas do lixo deixam de poluir nosso planeta. Ela conta que além de tampinhas o Instituto do Câncer Infantil também recebe doações de roupas e alimentos, materiais de higiene pessoal, e brinquedos. No último sábado de cada mês acontece um brechó que funciona em sua sede na rua São Manoel, 850, das 9h às 16h.

Saiba como ajudar:

Tampinha Legal

O Tampinha Legal é um programa socioambiental de caráter educativo de iniciativa da indústria de transformação do plástico da América Latina. Lançado em 2016 na segunda edição do Congresso Brasileiro do Plástico (CBP), propõe ações modificadoras de comportamento de massa através do fomento e incentivo da coleta de tampas de plástico.

Quero ser um Ponto de Coleta, como proceder?

Acesse a página de cadastramento. Você receberá um e-mail com o passo a passo. Junte-se a nós! Junte tampinhas!

O que fazer com as tampinhas coletadas?

Deposite no ponto de coleta mais próximo. Veja aqui neste link os pontos de coleta mais próximos.

Quero participar, mas minha cidade não possui ponto de coleta. O que devo fazer?

Deposite no ponto de coleta mais próximo.

No site existe uma ferramenta de busca por CEP. Você encontra o ponto de coleta mais próximo. Junte tampinhas!

Coordenação: Prof.ª Michelle Raphaelli

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Salve vidas, doe tempo! Seja um doador de órgãos, medula ou sangue

O fator que separa a vontade de ser um doador, é de fato, o ato de doar.

Reportagem: Vanessa de Oliveira, Gustavo Pilar e Guilherme Ness
Edição: Juliana Barbieri

Falar sobre doação de órgãos, de sangue ou de medula não é fácil. E deveria ser fácil, porque envolve convencer as pessoas a fazer o bem.  Trata-se de uma ação que visa salvar vidas.  Quem precisa de uma doação encara uma rotina difícil. Por vezes, essas pessoas estão hospitalizadas, frágeis, e enfrentam uma fila de espera por um doador compatível, ou transplante. Essa espera envolve a dor de quem precisa e a dor de quem vai decidir pela doação. Em muitos casos, a decisão de doar órgãos, por exemplo, está diretamente relacionada a perda, a uma morte. Quem doa, seja sangue, medula ou órgãos não tem a dimensão do bem que faz. As campanhas para estimular as doações existem, porque a demanda necessária é muito maior do que a disponível – e sim, esse é o óbvio que precisa ser dito. Há desinformação, há ignorância também, mas também há solidariedade e muita vontade de fazer o bem e é por isso, que vamos falar aqui, sobre porque devemos nos tornar doadores.

Doação de Órgãos

Neste mês de maio, o primeiro transplante de pulmão do Brasil e da América Latina completa 30 anos. Em depoimento, durante entrevista a Rádio Gaúcha, o  médico responsável pela cirurgia,  José de Jesus Peixoto Camargo, conta sobre o cuidado em lidar com as famílias dos doadores. Muitas delas possuem um bloqueio sobre o assunto, que ele atribui ao tratamento desacolhedor que recebem.  “Eu  acho que tem uma série de fatores. Um dos fatores, pouco divulgado,  é como a família do acidentado foi tratada na ocasião do acidente. Pensa bem, o pai recebe a notícia que seu filho está acidentado, em estado grave na UTI, do Pronto-socorro. Ele corre pra lá, chega na portaria – sou o pai do fulano que está internado, ele está muito mal e eu tenho que subir”.

Logo, recebe a negativa que não é hora de visita e ao insistir é barrado pelo segurança, conta o doutor Camargo. Horas depois desse tratamento inadequado, o filho morre e o pai é indagado se gostaria de doar os órgãos.  “Em qualquer país civilizado os hospitais de trauma têm salas, adequados com música ambiente, psicólogos, chazinhos com tranquilizante. Porque tu começas o conforto aí, a proteção. As pessoas ficam como o espírito adequado para serem generosas”,  completa o médico.

Doutor Camargo conta ainda que algumas pessoas, nem sequer, sabem o que é um transplante. Ele cita, que no Brasil, não há cultura sobre a importância da doação. E o intuito é fazer uso de todas as ferramentas possíveis para a divulgação essa ideia. Ele fala que participou da criação de uma frente parlamentar para debater sobre a doação de órgãos, na Assembleia Legislativa do Estado. Um dos objetivos é levar o debate sobre o tema às escolas.

É pensando na conscientização social que devemos refletir também sobre a atitude de mostrar em vida, a intenção de se tornar um doador. Por mais que a decisão final seja da família, no caso de morte encefálica, é fundamental que o doador expresse esse desejo para seus familiares enquanto vivo. Desse modo, a aceitação da família se torna mais fácil e quem sabe até conforte um pouco a dor da perda.

Foto: Arquivo Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul

Doação de Medula

Quando construímos redes de solidariedade é que o bem se fortalece. É o caso do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea, Redome, que facilita o agrupamento de informações sobre doadores interessados. Conversamos com a técnica em enfermagem do Hemocentro de Porto Alegre, Isabel Cristina de Oliveira. Ela nos explica, que antes do cadastro a pessoa interessada precisa comparecer ao Hemocentro de seu estado, portando um documento de identidade com foto. É retirada uma pequena quantidade de sangue para análise de compatibilidade e identificação das características genéticas. Após isso, os doadores são incluídos no banco de dados. Segundo Isabel, quando as características genéticas forem compatíveis com o receptor do transplante é feito o contato com o possível doador para confirmar a doação. Havendo isso, é realizada uma nova coleta que é enviada para a sede do Redome, onde farão novos testes para garantir a compatibilidade. Isabel enfatiza que o procedimento é seguro e sem riscos. “A doação é realizada em centro cirúrgico, após passar por anestesia geral a medula será retirada do interior de ossos da bacia por meio de punções. O procedimento leva em torno de 90 minutos e requer internação de 24 horas. Os riscos são poucos, os relatos médicos de problemas relacionados à doação são raros e limitados. Em alguns casos é relatada pequena dor no local, dor de cabeça e cansaço. Por esse motivo o estado físico do doador é checado antes da doação.”

Ajudar a salvar uma vida é um gesto de humanidade. A vendedora Franciana Rebello, de 27 anos, cadastrada no Redome, como doadora de medula, há 6 anos, se preocupa com os casos de crianças que precisam de transplante. Ela usa isso como motivação para ajudar e recomenda a doação. “Não custa nada, é só um teste de compatibilidade e se for compatível é um procedimento simples, com anestesia e pouco dolorido, e você pode salvar a vida de alguém que está recém começando a sua”, fazendo menção às crianças.

Já a estagiária em assessoria de comunicação, Amanda Krohn, de 23 anos, é doadora de medula há cerca de um ano. “Sempre tive vontade de ser doadora, é muito gratificante saber que podemos salvar a vida de alguém, então o que me motivou foi isso – a vontade de ajudar”.

DOAÇÃO DE SANGUE

Muito se fala sobre como é fácil ser um doador. O fator que separa a vontade de ser um doador, é de fato,  doar. É uma boa ação que exige apenas a dedicação de tempo.

Mas vale dizer que também tem outros fatores importantes que devem ser levados em consideração – para doar sangue é necessário:

  • Estar em boas condições de saúde;
  • Apresentar documento oficial de identidade com foto;
  • Ter idade entre 16 e 69 anos, sendo que os candidatos a doadores com menos de 18 anos deverão estar acompanhados pelos pais ou por responsável legal;
  • Pesar no mínimo 50 Kg com desconto de vestimentas;
  • O limite de idade para a primeira doação é de 60 anos;
  • Não estar em jejum e evitar alimentação gordurosa;
  • Ter dormido pelo menos 6 horas antes da doação;
  • Não ter ingerido bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores à doação;
  • Não fumar pelo menos duas horas antes da doação
Foto: arquivo Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul

Quer fazer o bem?

Comece doando sangue e procure o hemocentro de sua cidade ou vá até o Hemocentro do Estado, localizado na Avenida Bento Gonçalves, número 3722, em Porto Alegre.

Informações pelo telefone (51) 3336-6755 ou pelo Email, hemorgs-adm@fepps.rs.gov.br.

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“Isso me preenche, me completa a vida”, diz voluntária de 77 anos, na Central de Doações da Campanha do Agasalho

Em meio aos agasalhos, cobertores e calçados, Dona Gisela que nunca falta ao trabalho – se destaca.

Reportagem: Gionara Machado
Edição: Juliana Barbieri

Há mais de oito anos dona Gisela Silva da Rosa, de 77 anos, se envolve em projetos de voluntariado. A aposentada é a única voluntária no grupo de triagem das peças que são recebidas para serem encaminhadas para vítimas de desastres naturais, instituições beneficentes e famílias carentes.

Como única voluntária, ela afirma que tem espaço na equipe para mais pessoas que tiverem interesse em doar um pouquinho do seu tempo para ajudar. Dona Gisela faz questão de contar como funciona o trabalho na Campanha. “Nós fazemos a triagem, separamos as peças recebidas para dar o justo destino, aos que mais precisam de agasalho. Já as peças danificadas, nós encaminhamos para uma associação onde outra senhora restaura e redistribui”.

Dona Gisela já esteve em grupos organizados por amigos em diversas ações para promover o bem ao próximo. A motivação para fazer o bem, vem de um momento de superação da dor da perda de um filho e um neto, há dois anos. O trabalho como voluntária ajuda a preencher a falta que sente. Quando questionada sobre fazer o bem através da ajuda na Central de Doações da Campanha do Agasalho – a resposta é direta – “sou muito feliz, isso aqui me preenche, me completa a vida”– conta.

Dona Gisela aparece na foto com equipamento (máscara) para realizar sua atividade de triagem.
Foto: Michelle Raphaelli

Seja um voluntário na Campanha do Agasalho

A Central de Doações da Campanha do Agasalho necessita de voluntários como a dona Gisela. Para fazer parte da equipe, basta ir até o Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF), localizado em Porto Alegre. O responsável é o tenente Marcelo Santos. Mais informações 51 3288 6781.

Saiba como fazer sua doação para a Campanha do Agasalho

As doações podem ser feitas em todos os quartéis da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros, na Central de Doações do Estado, que fica no Centro Administrativo, em Porto Alegre, nas nove coordenadorias regionais da Defesa Civil (Porto Alegre, Santa Maria, Pelotas, Santo Ângelo, Uruguaiana, Frederico Westphalen, Lajeado, Caxias do Sul e Passo Fundo), em 36 lojas Zaffari, 267 unidades das farmácias São João e 66 unidades do Sesc no Estado. A Campanha do Agasalho do Estado é uma ação das secretárias Tânia Moreira (Comunicação) e Regina Becker (Trabalho e Assistência Social) e do coordenador Estadual de Proteção e Defesa Civil, coronel Júlio César Rocha Lopes.

Coordenação: Prof.ª Michelle Raphaelli

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Cozinheiros do Bem: a comida que espalha o amor

Cozinheiros do bem, há quase quatro anos evitando que os moradores em situação de rua de Porto Alegre comam comida do lixo.

Reportagem: Cíntia Borba e Evelyn Lucena
Edição: Juliana Barbieri

Foi em um sábado chuvoso, embaixo do Viaduto da Conceição, no centro da Capital, que encontramos o criador do projeto Coletivo Cozinheiros do Bem – Food Fighters, Júlio Ritta, de 35 anos. Ritta conversou com a reportagem, e no local – encontramos também homens, mulheres, jovens e idosos, todos com a mesma disposição. O trabalho do grupo inclui além de distribuir almoço, também dar atenção e carinho para quem mais precisa. Com alegria contagiante, os voluntários do projeto são recepcionados todos os sábados por cerca de dez primeiras pessoas que já formavam a fila.

Júlio Ritta, criador do projeto “Cozinheiros do Bem”
Foto: Vinny Vanoni

Com um sorriso no rosto, Júlio contou sobre o início do Coletivo. Ele trabalhava como chef em um restaurante e tinha um desejo muito grande de ajudar o próximo. No primeiro evento realizado, o Cozinheiros do Bem entregou 70 refeições. Atualmente, fornece mais de três mil refeições a cada final de semana, as pessoas podem repetir o prato quantas vezes quiserem . Nunca sobra comida. O líder do projeto ressalta que graças à força de vontade de todos os voluntários, hoje eles formam uma corrente de amor. Os voluntários cozinham principalmente para a população de rua. Mas nem todos que estavam na fila moram nas ruas, alguns precisam do apoio do projeto, pois passam por dificuldades de todo tipo. Conversamos com essas pessoas e muitas não autorizaram identificação, pois as famílias não sabiam da situação difícil em que se encontravam.

Elizete Teresinha da Silva, beneficiada pelo projeto “Cozinheiros do Bem”
Foto: Vinny Vanoni

Conforme chegavam os moradores de rua, notava-se sempre um beijo, um abraço e um sorriso para os voluntários do projeto. O clima era de um almoço em família, onde se via reencontros de pessoas que no dia a dia estão desconectadas. “Não é somente chegar aqui e entregar a comida, se fosse assim eu vinha com tudo pronto e só despejava aqui, é mais do que isso. É amor” – disse Júlio.

Voluntários Ong Viver de Rir
Foto: Vinny Vanoni

E para alegrar ainda mais os sábados, a ONG Viver de Rir, uma turma de palhaços, contribui com participação na ação. Eles fazem a turma toda gargalhar enquanto aguardam na fila.

Antes da comida ser entregue, Júlio se une com todos os voluntários, abraça, faz selfies e pede que todos deem as mãos. Esse momento é bem especial para os voluntários. O líder do projeto dá as boas vindas aos novos integrantes da equipe que auxilia na ação e fala sobre a importância da entrega, do amor. Ele valoriza o tempo dedicado, e que mesmo naquele sábado de chuva ou outros tantos de frio eles estavam ali com o objetivo de fazer bem . E com um grito de guerra denominado de “Ubuntu”, palavra de origem africana que significa “humanidade para com os outros” eles batem palmas e iniciam a entrega das marmitas.


Júlio Ritta logo grita: – Quero ver essa marmita servida até o “talo”.

Marmita servida pelos “Cozinheiros do Bem” no dia 11 de maio
Foto: Vinny Vanoni

Depois que a refeição começa a ser feita, e logo vem um cheiro bom que dá água na boca, os voluntários se dividem em grupos, uns cuidam das panelas, outros ajudam na fila. As crianças e os mais velhos têm preferência para receber a comida. É impossível não se emocionar ao ver a felicidade e o brilho nos olhos de todos, dos que ajudam e dos que são ajudados.


Curtiu? Quer ajudar? Saiba como:

O coletivo recebe doações de diversas formas, através de arrecadação de alimentos, mensalidade não obrigatória, no valor de 25 reais ou venda de camisetas com o logotipo do projeto “Cozinheiros do Bem”. O valor arrecadado é utilizado para a compra de itens que são menos doados, como carnes e descartáveis utilizados para servir os almoços.

Além disso, é possível contribuir com a Vakinha online para arrecadar dinheiro. O valor arrecadado ajudará na abertura da sede oficial da equipe, que está prevista para o mês de junho. Quando perguntamos ao Júlio quem poderia se voluntariar ele prontamente nos respondeu: “Se tem vontade é só vir”.

Coordenação: Prof.ª Michelle Raphaelli

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Quem Somos?

Brenda Lopes, aspirante a jornalista, 19 anos. Apaixonada por fotografia, jornalismo na tv. Gosta de gravar e editar vídeos. Gosta de tecnologia, redes sociais- tem como meta abandonar toda ideia clichê na comunicação.
Bem me fez escolher o jornalismo, para trilhar novos caminhos e testar multiplataforma. E quem sabe, um dia, inovar e surpreender.

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Cíntia Borba, estudante de jornalismo, 25 anos. Gosta do poder e de empoderar outras mulheres. Coragem de dizer o que não dizem. Tem a mente organizada e vida bagunçada. Curte viagem, bom vinho, valoriza as descobertas gastronômicas. Leva uma vida saudável.
Bem me fez ser assim, dona de mim.

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Evelyn Lucena, estudante de jornalismo, 22 anos. Vegetariana, gosta de praia e verão. Tatuada, escolheu a lua e o sol como marcada. Lifestyle, busca sempre o equilíbrio e luta como uma garota, literalmente, é praticante de Muay Thai.
Bem me fez acreditar, que se cada um fizer o que está ao seu alcance, o mundo pode melhorar.

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Gi Machado, estudante de jornalismo, 33 anos. Apaixonada por todos os movimentos que envolvem comunicação, arte e cultura. Acredita na liberdade que a escrita oferece para o manifesto dos sentimentos, gosta de poesia, música e literatura.
Bem me fez estar aqui para ver, escrever e crescer!

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Guilherme Ness, 23 anos e estudante de jornalismo. Estagiário na área, apaixonado por esporte tanto praticado quanto assistindo. Totalmente comunicativo, às vezes até demais.
Bem me fez acreditar que a vida precisa de esporte.

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Gustavo Becker, estudante de jornalismo, 20 anos. Fala muito, adora contar histórias, trabalha em um posto de gasolina. É uma pessoa calma, exceto se alguém mexer com seu Corcel II, 1983.
Bem me fez escolher o jornalismo e acreditar que podemos melhorar o mundo.

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Gustavo Pilar, estudante de jornalismo, 21 anos. Por vezes fala muito, mas é bastante observador. Futuro comunicador de rádio. Enquanto esse futuro ainda não é o presente, ocupa seu tempo para curtir boa música. Ponderado, mas convicto, tem bons argumentos quase sempre.
O bem que me fez enxergar o lado bom das pessoas.

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Juliana Barbieri, estudante de jornalismo, 25 anos. Apaixonada por fotografia, inverno, séries e filmes. Adora um bom livro, já leu “O morro dos ventos uivantes”, “Harry Potter” e “Game of Thrones”, mas ainda precisa ler a trilogia de “Crianças Peculiares” e “Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente”. Aparentemente tímida, mas engana.
Bem me fez querer ser jornalista pra fotografar esse mundo lindo.

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Rafael Ricalde, estudante de jornalismo, 20 anos. Apaixonado por futebol , já projeta aliar essa paixão com jornalismo e o rádio. Ex-militar, aprendeu a lidar com as regras. Pretende voltar para carreira militar depois de concluir a faculdade. Desprovido de altura, e isso é motivo de zoeira entre os colegas, bem humorado – não liga!
Bem me fez acreditar que o esporte pode unir as pessoas.

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Tyane Leal, estudante de Jornalismo, 25 anos. Feminista. Aprecia bons livros, gosta de escrever, fotografar. É contadora de histórias e viciada em séries clichês, como Grey’s Anatomy.Engraçadinha, piadista, as vezes – dá umas “bolas foras”, mas logo pede desculpas. Tem o coração mole de uma pisciana típica. Esconde o sorriso, mas é só pose.
Bem me fez escolher a comunicação por amor e para informar de forma honesta e clara.

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Vanessa de Oliveira, estudante de Jornalismo, 33 anos. Feminista. Apaixonada pelos filhos e pelo Sport Clube Internacional.
Adora um churrasco e cerveja gelada. Defende direitos e oportunidades para todos.
Bem me fez escolher o jornalismo para vivenciar ainda mais de perto a história.