Salve vidas, doe tempo! Seja um doador de órgãos, medula ou sangue

O fator que separa a vontade de ser um doador, é de fato, o ato de doar.

Reportagem: Vanessa de Oliveira, Gustavo Pilar e Guilherme Ness
Edição: Juliana Barbieri

Falar sobre doação de órgãos, de sangue ou de medula não é fácil. E deveria ser fácil, porque envolve convencer as pessoas a fazer o bem.  Trata-se de uma ação que visa salvar vidas.  Quem precisa de uma doação encara uma rotina difícil. Por vezes, essas pessoas estão hospitalizadas, frágeis, e enfrentam uma fila de espera por um doador compatível, ou transplante. Essa espera envolve a dor de quem precisa e a dor de quem vai decidir pela doação. Em muitos casos, a decisão de doar órgãos, por exemplo, está diretamente relacionada a perda, a uma morte. Quem doa, seja sangue, medula ou órgãos não tem a dimensão do bem que faz. As campanhas para estimular as doações existem, porque a demanda necessária é muito maior do que a disponível – e sim, esse é o óbvio que precisa ser dito. Há desinformação, há ignorância também, mas também há solidariedade e muita vontade de fazer o bem e é por isso, que vamos falar aqui, sobre porque devemos nos tornar doadores.

Doação de Órgãos

Neste mês de maio, o primeiro transplante de pulmão do Brasil e da América Latina completa 30 anos. Em depoimento, durante entrevista a Rádio Gaúcha, o  médico responsável pela cirurgia,  José de Jesus Peixoto Camargo, conta sobre o cuidado em lidar com as famílias dos doadores. Muitas delas possuem um bloqueio sobre o assunto, que ele atribui ao tratamento desacolhedor que recebem.  “Eu  acho que tem uma série de fatores. Um dos fatores, pouco divulgado,  é como a família do acidentado foi tratada na ocasião do acidente. Pensa bem, o pai recebe a notícia que seu filho está acidentado, em estado grave na UTI, do Pronto-socorro. Ele corre pra lá, chega na portaria – sou o pai do fulano que está internado, ele está muito mal e eu tenho que subir”.

Logo, recebe a negativa que não é hora de visita e ao insistir é barrado pelo segurança, conta o doutor Camargo. Horas depois desse tratamento inadequado, o filho morre e o pai é indagado se gostaria de doar os órgãos.  “Em qualquer país civilizado os hospitais de trauma têm salas, adequados com música ambiente, psicólogos, chazinhos com tranquilizante. Porque tu começas o conforto aí, a proteção. As pessoas ficam como o espírito adequado para serem generosas”,  completa o médico.

Doutor Camargo conta ainda que algumas pessoas, nem sequer, sabem o que é um transplante. Ele cita, que no Brasil, não há cultura sobre a importância da doação. E o intuito é fazer uso de todas as ferramentas possíveis para a divulgação essa ideia. Ele fala que participou da criação de uma frente parlamentar para debater sobre a doação de órgãos, na Assembleia Legislativa do Estado. Um dos objetivos é levar o debate sobre o tema às escolas.

É pensando na conscientização social que devemos refletir também sobre a atitude de mostrar em vida, a intenção de se tornar um doador. Por mais que a decisão final seja da família, no caso de morte encefálica, é fundamental que o doador expresse esse desejo para seus familiares enquanto vivo. Desse modo, a aceitação da família se torna mais fácil e quem sabe até conforte um pouco a dor da perda.

Foto: Arquivo Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul

Doação de Medula

Quando construímos redes de solidariedade é que o bem se fortalece. É o caso do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea, Redome, que facilita o agrupamento de informações sobre doadores interessados. Conversamos com a técnica em enfermagem do Hemocentro de Porto Alegre, Isabel Cristina de Oliveira. Ela nos explica, que antes do cadastro a pessoa interessada precisa comparecer ao Hemocentro de seu estado, portando um documento de identidade com foto. É retirada uma pequena quantidade de sangue para análise de compatibilidade e identificação das características genéticas. Após isso, os doadores são incluídos no banco de dados. Segundo Isabel, quando as características genéticas forem compatíveis com o receptor do transplante é feito o contato com o possível doador para confirmar a doação. Havendo isso, é realizada uma nova coleta que é enviada para a sede do Redome, onde farão novos testes para garantir a compatibilidade. Isabel enfatiza que o procedimento é seguro e sem riscos. “A doação é realizada em centro cirúrgico, após passar por anestesia geral a medula será retirada do interior de ossos da bacia por meio de punções. O procedimento leva em torno de 90 minutos e requer internação de 24 horas. Os riscos são poucos, os relatos médicos de problemas relacionados à doação são raros e limitados. Em alguns casos é relatada pequena dor no local, dor de cabeça e cansaço. Por esse motivo o estado físico do doador é checado antes da doação.”

Ajudar a salvar uma vida é um gesto de humanidade. A vendedora Franciana Rebello, de 27 anos, cadastrada no Redome, como doadora de medula, há 6 anos, se preocupa com os casos de crianças que precisam de transplante. Ela usa isso como motivação para ajudar e recomenda a doação. “Não custa nada, é só um teste de compatibilidade e se for compatível é um procedimento simples, com anestesia e pouco dolorido, e você pode salvar a vida de alguém que está recém começando a sua”, fazendo menção às crianças.

Já a estagiária em assessoria de comunicação, Amanda Krohn, de 23 anos, é doadora de medula há cerca de um ano. “Sempre tive vontade de ser doadora, é muito gratificante saber que podemos salvar a vida de alguém, então o que me motivou foi isso – a vontade de ajudar”.

DOAÇÃO DE SANGUE

Muito se fala sobre como é fácil ser um doador. O fator que separa a vontade de ser um doador, é de fato,  doar. É uma boa ação que exige apenas a dedicação de tempo.

Mas vale dizer que também tem outros fatores importantes que devem ser levados em consideração – para doar sangue é necessário:

  • Estar em boas condições de saúde;
  • Apresentar documento oficial de identidade com foto;
  • Ter idade entre 16 e 69 anos, sendo que os candidatos a doadores com menos de 18 anos deverão estar acompanhados pelos pais ou por responsável legal;
  • Pesar no mínimo 50 Kg com desconto de vestimentas;
  • O limite de idade para a primeira doação é de 60 anos;
  • Não estar em jejum e evitar alimentação gordurosa;
  • Ter dormido pelo menos 6 horas antes da doação;
  • Não ter ingerido bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores à doação;
  • Não fumar pelo menos duas horas antes da doação
Foto: arquivo Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul

Quer fazer o bem?

Comece doando sangue e procure o hemocentro de sua cidade ou vá até o Hemocentro do Estado, localizado na Avenida Bento Gonçalves, número 3722, em Porto Alegre.

Informações pelo telefone (51) 3336-6755 ou pelo Email, hemorgs-adm@fepps.rs.gov.br.

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Cozinheiros do Bem: a comida que espalha o amor

Cozinheiros do bem, há quase quatro anos evitando que os moradores em situação de rua de Porto Alegre comam comida do lixo.

Reportagem: Cíntia Borba e Evelyn Lucena
Edição: Juliana Barbieri

Foi em um sábado chuvoso, embaixo do Viaduto da Conceição, no centro da Capital, que encontramos o criador do projeto Coletivo Cozinheiros do Bem – Food Fighters, Júlio Ritta, de 35 anos. Ritta conversou com a reportagem, e no local – encontramos também homens, mulheres, jovens e idosos, todos com a mesma disposição. O trabalho do grupo inclui além de distribuir almoço, também dar atenção e carinho para quem mais precisa. Com alegria contagiante, os voluntários do projeto são recepcionados todos os sábados por cerca de dez primeiras pessoas que já formavam a fila.

Júlio Ritta, criador do projeto “Cozinheiros do Bem”
Foto: Vinny Vanoni

Com um sorriso no rosto, Júlio contou sobre o início do Coletivo. Ele trabalhava como chef em um restaurante e tinha um desejo muito grande de ajudar o próximo. No primeiro evento realizado, o Cozinheiros do Bem entregou 70 refeições. Atualmente, fornece mais de três mil refeições a cada final de semana, as pessoas podem repetir o prato quantas vezes quiserem . Nunca sobra comida. O líder do projeto ressalta que graças à força de vontade de todos os voluntários, hoje eles formam uma corrente de amor. Os voluntários cozinham principalmente para a população de rua. Mas nem todos que estavam na fila moram nas ruas, alguns precisam do apoio do projeto, pois passam por dificuldades de todo tipo. Conversamos com essas pessoas e muitas não autorizaram identificação, pois as famílias não sabiam da situação difícil em que se encontravam.

Elizete Teresinha da Silva, beneficiada pelo projeto “Cozinheiros do Bem”
Foto: Vinny Vanoni

Conforme chegavam os moradores de rua, notava-se sempre um beijo, um abraço e um sorriso para os voluntários do projeto. O clima era de um almoço em família, onde se via reencontros de pessoas que no dia a dia estão desconectadas. “Não é somente chegar aqui e entregar a comida, se fosse assim eu vinha com tudo pronto e só despejava aqui, é mais do que isso. É amor” – disse Júlio.

Voluntários Ong Viver de Rir
Foto: Vinny Vanoni

E para alegrar ainda mais os sábados, a ONG Viver de Rir, uma turma de palhaços, contribui com participação na ação. Eles fazem a turma toda gargalhar enquanto aguardam na fila.

Antes da comida ser entregue, Júlio se une com todos os voluntários, abraça, faz selfies e pede que todos deem as mãos. Esse momento é bem especial para os voluntários. O líder do projeto dá as boas vindas aos novos integrantes da equipe que auxilia na ação e fala sobre a importância da entrega, do amor. Ele valoriza o tempo dedicado, e que mesmo naquele sábado de chuva ou outros tantos de frio eles estavam ali com o objetivo de fazer bem . E com um grito de guerra denominado de “Ubuntu”, palavra de origem africana que significa “humanidade para com os outros” eles batem palmas e iniciam a entrega das marmitas.


Júlio Ritta logo grita: – Quero ver essa marmita servida até o “talo”.

Marmita servida pelos “Cozinheiros do Bem” no dia 11 de maio
Foto: Vinny Vanoni

Depois que a refeição começa a ser feita, e logo vem um cheiro bom que dá água na boca, os voluntários se dividem em grupos, uns cuidam das panelas, outros ajudam na fila. As crianças e os mais velhos têm preferência para receber a comida. É impossível não se emocionar ao ver a felicidade e o brilho nos olhos de todos, dos que ajudam e dos que são ajudados.


Curtiu? Quer ajudar? Saiba como:

O coletivo recebe doações de diversas formas, através de arrecadação de alimentos, mensalidade não obrigatória, no valor de 25 reais ou venda de camisetas com o logotipo do projeto “Cozinheiros do Bem”. O valor arrecadado é utilizado para a compra de itens que são menos doados, como carnes e descartáveis utilizados para servir os almoços.

Além disso, é possível contribuir com a Vakinha online para arrecadar dinheiro. O valor arrecadado ajudará na abertura da sede oficial da equipe, que está prevista para o mês de junho. Quando perguntamos ao Júlio quem poderia se voluntariar ele prontamente nos respondeu: “Se tem vontade é só vir”.

Coordenação: Prof.ª Michelle Raphaelli

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